sábado, 29 de dezembro de 2007

Começaram os Saldos...

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Começaram oficialmente nesta Sexta-Feira 28 de Dezembro, os saldos de Inverno.
Por várias razões quer profissionais quer familiares, estes momentos de inicio de saldos, obrigam-me a estar em lojas que "atacam" esta época de saldos de forma feroz e determinada, transformando-a em momentos de grande movimento e por consequência de melhores receitas globais, antes da entrada das novas colecções, da época que se segue.

Por essa razão é sempre interessante poder estar numa ou em várias lojas, como foi o meu caso hoje, e apreciar as reacções das pessoas dentro destes estabelecimentos que normalmente estão devidamente arrumados, alinhados, etiquetados durante toda a temporada, mas que nos primeiros dias de saldos se transformam em verdadeiras bancas de feira, com roupa ou outros artigos em montes multicor e multiforma, que podem atingir alturas e formas inimagináveis.

Para mim é uma ciência a descobrir a influência verdadeiramente estupidificante que têm os saldos nas mulheres, de igual forma e quiçá ainda mais grave e triste é verificar o ar verdadeiramente entediado que os maridos conseguem assumir quando acompanham as senhoras, num périplo pelas lojas em saldo.

A titulo de exemplo deixo-vos apenas um pequeno exemplo daquilo que assisti num só casal e numa só loja. Aproxima-se da porta uma senhora 40/42 anos, muito elegante, bonita e bem vestida, acompanhada de um cavalheiro sensivelmente, penso eu, mais velho 45/46 anos, presumo marido. A senhora caminhava á frente, passo largo e desenvolto, olhar fixo no interior da loja, ar decidido e confiante, ele calmo e sereno, seguia-a a curta distância mas mesmo assim atrás, olhar desinteressado, rodando em volta em busca de algum ponto de interesse, atrasando-se e ficando com o semblante mais carregado, consoante vagarosamente encurtava a distância para a soleira da porta, que presumo lhe pareceria fatidica naquele momento, ela parecia deixar o seu passo firme e adoptar nestes ultimos e decisivos centimetros um quase galope, que certamente era apenas refreado pela sua compostura, altiva e nobre. Ela entra na loja e percorre meia loja tentando absorver todas as peças expostas, em menos de um minuto, transforma-se o seu semblante rapidamente, assume agora um olhar voraz, quiçá frenético, mexe aqui, toca ali, sem verdadeiramente pegar ou dar atenção a nada; entrementes ele logo após ultrapassar a ultima grande barreira (soleira da porta) que o separava do interior da loja, ficou por momentos estático elevou o olhar, tentou encontrar um refugio seguro, algum sitio onde pudesse "estacionar" juntamente com outros sacos que já empunhava, revelava aqui que certamente , já não seria a primeira situação idêntica porque passava, a sua experiência certamente já catedrática, nesta arte de acompanhar a sua esposa nas compras de saldos, era agora importântissima, mas a loja não lhe era favorável, onde quer que estivesse estava sempre um espelho indiscreto, que lhe denunciava a posição e o impedia de apreciar outras "peças" que circulavam pela loja. Ela após o impacto inicial, e depois de avaliar os outros clientes tentava agora mantê-lo junto a si, não perguntando sobre o gosto e a estética das peças mas antes mostrando-lhe as etiquetas, como que procurando justificar o enorme esforço que ele aparentava em acompanhá-la mas que seria por ela justificado com a "enorme" poupança que ela fazia em coisas que nitidamente não precisaria. Ele, resignado, anuia sem pronunciar palavra, tal qual como qualquer condenado, tenta fazer perante um interrogatório onde sabe que tudo o que diga pode e deverá ser usado contra si.

Percorridas sem falta todas as prateleiras e balcões da loja, nalguns casos mais ainda do que uma segunda vista de olhos, e depois do esforço inglório que ele a cada troca de prateleira, fazia no sentido de a levar a sair da loja; utilizando para tal, a mesma técnica que usamos com os nossos animais domésticos, e que consiste em colocarmo-nos entre o alvo (porta de saida) e o "animal" e quando ele se distrai, tentamos que nos siga sem que para tal lhe tenhamos que dar ordem expressa; chega o momento de ela escolher o "troféu", experimentar, comparar, revisar, inspeccionar, voltar a experimentar, tentar combinar ainda com uma segunda peça alegadamente idêntica a outra que já tem mas que nunca fica tão bem como ficaria a segunda peça experimentada, aproxima-se o momento derradeiro...- a conta, se faz favor!.

O momento que se segue é quase indescritivel, simplesmente porque é um verdadeiro hino á linguagem corporal, ela até aqui nitidamente tomando as rédeas da acção, lentamente dá um passo atrás olha-lhe languidamente num misto de sensualidade, de empatia e de solicitude, sem pronunciar uma unica palavra, afasta-se e deixa que seja ele ouça directamente da boca da funcionária o valor a pagar. Quando isso acontece, o seu (dele) semblante muda, olha para ela em ar de perfeita reprovação e desagrado, ao qual ela responde com um amarelo sorriso, quiçá meio envergonhado e nunca enfrentando o olhar nunca comprometedor e também ele experiente da funcionária, que habituada á situação repetida certamente vezes sem conta, jamais fará sentir á cliente que se apercebeu do seu constrangimento momentâneo.

No momento seguinte é ele que carregando um outro saco, procura a saida e toma a liderança da caminhada, passo forte e decidido até á grande e libertadora que é a soleira da porta, donde em diante poderá respirar de alivio, ela segue-o apaziguada por forma momentânea e pelo menos até ao aproximar da loja seguinte.

2 comentários:

Anónimo disse...

Como eu compreendo e sou solidário com esse senhor!

JBrito disse...

Bem a analise do bicho!?
Paciencia e descrição de promenores do tipo (era agora importântissima, mas a loja não lhe era favorável, onde quer que estivesse estava sempre um espelho indiscreto, que lhe denunciava a posição ).
Muito bom post!?
Prometo visitar este centro de perfeitas anormalidades do me primo Algarvio
Forte abraço do Primo Jorge D. Brito
http://jorgebrunabrito.blogspot.com

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